A verdade sempre vale a pena – Revista Empregos & Carreiras

25 de abril de 2019

Cibelle Girão já trabalhou no RH de empresas de vários segmentos (Foto: CAMILA DE ALMEIDA)

Qual o risco das inverdades no ambiente corporativo e as mais frequentes mentiras contadas em processos seletivos.

Ninguém precisa ser santo no ambiente de trabalho, mas não adianta bancar o super-herói durante a seleção para um emprego ou depois da contratação. Os recrutadores e profissionais de Recursos Humanos em geral são assertivos: na hora da entrevista, por mais que a verdade doa, é preciso contá-la. Claro, não precisa ser de qualquer jeito, o ideal é falar de maneira objetiva, demonstrar interesse pela vaga e disposição para aprender.

É até engraçado, mas ainda é comum nas entrevistas de emprego candidatos apreensivos ao falar sobre a cervejinha do fim de semana. “A pessoa que tem o hábito de mentir desde o processo seletivo, provavelmente, fará o mesmo dentro da empresa. A empresa não vai ter interesse em ter essa pessoa que não sabe filtrar o que pode ser dito e não dito, a empregabilidade fica comprometida”, sinaliza a psicóloga Cibelle Girão, 30.

Atualmente, Cibelle é analista de Gente e Gestão da FortBrasil, administradora de cartões de crédito com cerca de 650 funcionários. Inclusive, durante a seleção para o cargo atual, ela contou que, sim, no momento de lazer, saía com esposo e amigos a restaurantes e barzinhos para tomar drinks. “Recebi depois o feedback de que fui uma das poucas pessoas que falou que bebe. Tem pessoas que realmente não bebem, mas isso (beber) não é problema nenhum, o problema é omitir ou mentir.”

Por mais que a mentira seja simples, o constrangimento quando a verdade vem à tona é grande para ambos, empregador e empregado. Mesmo que a intenção não seja de ludibriar, como explica o especialista em Investigações Corporativas e Prevenção de Fraudes Organizacionais, Mario Junior, sócio da S2 Consultoria. “O que eventualmente acontece é que o candidato não tem uma intenção deliberada de mentir ou trapacear no processo de seleção, mas sim o fato de ele querer muito aquele emprego. Ou até mesmo o fato de estar há alguns meses desempregado pode fazer que de forma inconsciente ele exagere em suas respostas para superar as expectativas do selecionador”, explica ele.

O problema é que até mentir sobre aquela habilidade de ser multitarefas e trabalhar sob pressão pode gerar, no futuro, um motivo de demissão por justa causa. “Configura, sim, a justa causa, é a desídia no desempenho das funções. A gente aconselha que nesse caso, o trabalhador leve uma advertência, uma suspensão disciplinar, mas se ele não se adequar ao serviço, aí tem uma justa causa”, diz o procurador Regional do Trabalho Gérson Marques.

E para além da expertise dos recrutadores em detectar mentiras, é possível checar fluência em outra língua ou domínio de ferramentas, como Excel, de maneira simples. “Não necessariamente dá para alegar justa causa, nesse caso pode gerar uma outra discussão. Quando a empresa vai contratar, precisa ver se o candidato atende, de fato, os requisitos. No exame admissional dá para tirar essa história a limpo”, analisa Gérson.

Os profissionais, observa também Mario Junior, vivem de imagem, reputação e capacidade de entrega de suas atividades. “Mas independentemente se a sua entrega é excepcional, se a sua imagem e reputação forem manchadas por uma mentira ou um ato contra as normas da empresa, isso tudo será esquecido. As empresas buscam sempre por meio de Testes de Integridade, como o Potencial de Integridade Resiliente, contratar o caráter e treinar as habilidades”, completa o especialista.

ATESTADO MÉDICO FALSO

“Em alguns setores, mais o setor de comércio, tem sido comum atestados médicos que não são verdadeiros. (O funcionário) falta um, dois dias, mata a mãe, mata o pai”, diz Gérson Marques. Nesse aspecto, é importante também salientar: falsificar atestado médico é crime. “Aí nem se fala, a justa causa é notória”, acrescenta o procurador Regional do Trabalho.

JUSTA CAUSA

Principais motivos de rescisão de contrato:

  • Improbidade (por roubo, desvio de dinheiro, furto dentro da empresa e desonestidade do empregado);
  • Adulteração de documentos da empresa;
  • Indisciplina (quando o funcionário não cumpre o regulamento da empresa);
  • Abandono de emprego (o funcionário some de repente).

ADULTERAÇÃO DE DADOS

Essa mentira é mais relatada nos segmentos financeiros, quando um profissional da área pode “maquiar” dados e trazer números deturpados. Valéria Mota, da MRH Gestão de Pessoas e Serviços, lembra ainda caso de consultor que entregou relatório de uma visita que nunca aconteceu. A empresa fez um contato aleatório com clientes e descobriu a visita fake. “Isso tudo pode trazer prejuízos para a empresa, a mentira na empresa é tão perigosa quanto no processo seletivo. Por pior que seja, a verdade é melhor aceita. A mentira traz desconfiança, desonestidade, falta de fidelidade com a empresa”, frisa.

NÃO BEBE E NÃO FUMA

“Quando a gente pergunta se fuma ou bebe, as pessoas costumam omitir, dizem: Não fumo, não bebo, sou tranquilo, sou da igreja”, conta a psicóloga Cibelle Girão. Em uma empresa anterior onde a profissional trabalhou, um funcionário que disse não beber na entrevista de admissão chegou ao trabalho alcoolizado. “Essa pessoa recebeu advertência, mas poderia ter sido demitida por justa causa”, lembra. Além disso, o trabalho desse funcionário era com máquinas o que também poderia ter resultado em risco à própria vida dele e dos demais.

FLUÊNCIA EM IDIOMAS

É comum o candidato colocar no currículo que é fluente em inglês, espanhol, francês, alemão… Na prática, isso pode ser um tiro no pé, porque nem sempre um curso básico em determinado idioma significa uma compreensão boa em outra língua, ressalta a consultora da Elevus Fortaleza, Mayara Alves. “A gente aconselha a não colocar que é fluente ou uma segunda língua se não tem. Tem pessoa que viajou para um intercâmbio e não diz que é fluente, diz ter nível avançado”.

MOTIVO DE DESLIGAMENTO

Expor os motivos da rescisão de contrato pode ser delicado, mas a recomendação geral dos recrutadores é falar a verdade. “Acabam dizendo que foi um corte, uma redução de custos e, muitas vezes, a gente consegue enxergar que o candidato tem medo de dizer que não se encaixou ou não atingiu a expectativa, mas uma das etapas de seleção é a coleta de referências”, explica Mayara Alves. Então, a dica é construir uma mensagem sincera e deixar claro que está disposto e preparado para assumir novas responsabilidades, apesar das questões anteriores.

PARTICIPAÇÃO EM CURSO/CONGRESSO

A gerente-executiva de seleção na MRH, Valéria Mota, cita um exemplo clássico de candidata que se inscreveu em um curso em outra cidade, não realizou a atividade, mas, por erro da instituição, recebeu um certificado. “Ela incluiu o certificado no currículo, e o recrutador baiano perguntou o que ela achava de Salvador. Ficou extremamente constrangedor porque ela disse que nunca esteve em Salvador. Mentira tem perna curta, a gente tem que colocar as competências que realmente tem”.

MULTITAREFA, PERFECCIONISTA E TRABALHA SOB PRESSÃO

Normalmente, as clássicas perguntas sobre pontos fracos e fortes geram respostas padronizadas se o candidato não estiver preparado. “Eles trazem um discurso muito pronto que, de fato, não reflete quem eles são. Ah, sou proativo, dinâmico, responsável, sei trabalhar sob pressão e em equipe”, enumera a consultora Mayara Alves. As habilidades a serem desenvolvidas são sempre “ambicioso” ou “perfeccionista”, acrescenta Mayara. “Quando a pessoa se depara com a realidade e tem dificuldade de trabalhar sob pressão e não consegue fazer várias atividades ao mesmo tempo acaba se atrapalhando no ambiente de trabalho, não passa dos seis meses”.

RELACIONAMENTO SEXUAL COM COLEGAS

Uma outra mentira muito comum, principalmente entre profissionais homens, é espalhar relacionamentos sexuais com colegas de trabalho. “Já recebi várias (denúncias) assim, se não for mentira é grave porque ofende a reputação, mas se for mentira é mais grave ainda. É um ato que prejudica a honra, está previsto como justa causa (de demissão)”, aponta o procurador Regional do Trabalho e professor da UFC, Gérson Marques.

Amanda Araújo – Repórter do Jornal o Povo

Fonte: Revista Empregos & Carreiras

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